Monday, May 31, 2010

Triste

Segunda-feira, depois de vitória do Timão, a vida sempre parece mais leve...Mas, aí, a primeira coisa que leio é sobre o ataque do exército de Israel ao navio de pacifistas, que levava ajuda humanitária aos palestinos da Faixa de Gaza. E são eles, desse governo armado até os dentes, os primeiros a exigir sanções contra o Irã...Lamento a dupla moral desse estado e a não condenação veemente e imediata dos Estados Unidos e este ato de violência e desrespeito à paz.
Assim, fica difícil celebrar o 4 a 2 contra os meninos da Vila...Muito triste.

Tuesday, May 25, 2010

Por que o sucesso de Lula incomoda?

Morando nos Estados Unidos há mais de uma década, por um bom tempo eu me acostumei à ideia de ver o meu país mencionado nos jornais americanos em temas quase sempre relacionados a tragédias. O lado positivo, se havia, ficava sempre por conta do turismo, das praias paradisíacas e dos resorts luxuosos que começavam a despontar no nordeste. Também vivi a ironia, amarga, de ver a vitória do Lula de longe, enquanto residia num país governado por George Bush. Achava que merecia ver o Lula vencedor, pois eu o apoiei durante toda a minha vida de eleitora. Aliás, mesmo antes disso.

Em 82, quando Lula se candidatou a governador e não tinha a menor chance contra Montoro, eu não podia votar mas me plantei na porta de casa e distribuí os poucos panfletos que consegui arrecadar com uma professora trotskista, que eu amava.
Por isso, senti não poder estar aqui celebrando a vitória do Lula depois de ter sofrido tanto durante a derrota das Diretas Já em 84 ou a vitória infamante do Collor, em 89. Queria também olhar na cara daqueles que duvidaram dele. Queria rir da Regina Duarte. Queria voltar a acreditar no Brasil.

De longe, ainda, acompanhava Lula e, mais que isso, fui ficando cada vez mais orgulhosa do que via. O Brasil começou a ser mencionado seriamente. O tal do gigante adormecido ia deixando de ser a eterna promessa. Em todo meu tempo fora, nunca vi um presidente brasileiro ser tão comentado. O Lula estava em todas. E ao contrário do que os comentaristas de plantão haviam dito por anos, ele não nos causava embaraço. Ao contrário, baixinho, com aquela voz que não é propriamente doce, o carisma do ex-metalúrgico nos elevava diante do mundo. Meus alunos na universidade começaram a fazer apresentações sobre ele. E olha que eu nunca sugeri o tema.

Mas cada vez que vinha visitar a família e os amigos, eles me olhavam complacentes dizendo que eu não sabia o que acontecia aqui. Pobre de mim, sabia apenas o que a imprensa estrangeira informava. Isso me intrigava tremendamente. Ao que eu saiba, a imprensa estrangeira não tem interesse em nos glorificar gratuitamente. Somos agora parceiros de muitas nações, mas também competidores no mercado internacional.

Evitei comentários porque precisava saber mais. Antes de vir pra cá, em fevereiro, para uma estada de seis meses, tive uma mostra do que me esperava com a ferocidade dos ataques da Folha de S. Paulo à candidata do PT. Achei a coisa de tal maneira grosseira, antiprofissional, mesmo para os padrões já tão baixos da Folha, que resolvi prestar mais atenção. Assim que cheguei, fui acompanhando a grande imprensa e os colunistas, muitos deles pessoas por quem eu tinha certo respeito no passado. Junto com os antigos baluartes da imprensa, vi também monstrengos recentes, como o chamado geógrafo Demétrio Magnoli que, para meu estarrecimento, vinha a público culpar os escravos pela escravidão, entre outras pérolas que me embrulham o estômago só de lembrar. Ai, deus, vi uma capa da Veja com o José Serra em pose de galã e fiquei triste pensando que essa revista ( a mesma que põe chá do Daime e cocaína no mesmo saco) seja talvez a mais lida e conhecida no país...Fiquei envergonhada de um dia ter sido jornalista.
Em pouco tempo, já não admitia que ninguém me viesse com a conversa de que estou fora há muitos anos, portanto não sei o que se passa aqui. Desisti de vez da grande imprensa pátria. Fui em busca de outras fontes, mergulhei no mundo da blogosfera, da imprensa alternativa, fui entender os projetos do governo e também seus fracassos. Percebi que o ranço da nossa burguesia mofada não mudou, mesmo depois de oito anos com um presidente que veio das massas. A arrogância da nossa classe média é algo que merece estudo sério; parece patológica, mas tem raízes históricas que enchem teses por aí.

Muita gente já explicou o fenômeno de rejeição ao Lula e algumas vezes de forma brilhante ( e aqui destaco o Mino Carta, a quem eu costumava achar muito maluco mas que ultimamente tem me parecido extremamente coerente). Na minha opinião, essa “alergia” se resume a algo bem simples até: o brasileiro classe média, preferencialmente classe média alta, e aquele que está bem abaixo mas que aspira ser classe média por simples assimilação, não admite a ideia de que um pobretão seja inteligente, tenha carisma, tenha projeção internacional. O próprio Ferreira Gular (quem diria!) acha que por ter sido pobre Lula não pode gostar de livros . O que ele diria de mim que também fui pobre e amo literatura a ponto de ter feito doutorado no tema. Será que vou ter de me desculpar com o poeta por não seguir o, digamos, determinismo “sociológico”? Ele, afinal, é poeta do século XX, não do XIX...

FHC pode ser metidão, claro, mas um nordestino que até já passou fome devia, na cabeça deles, continuar subalterno, nunca ser estrela; nunca fazer discursos que embasbacam a audiência. Eles devem pensar: onde é que isso vai parar? E eu espero que não pare! Quero ver mais e mais faniquitos, quando um dia, além de pobre, tivermos um presidente negro. Melhor ainda, uma presidente negra. Quem sabe aquele deputado que teve a petulância de dizer que o estupro institucionalizado, que manchou nossa história, foi sempre sexo consensual aprenda alguma coisa de história e de respeito à mulher negra brasileira.

Puxa, eu tenho críticas ao governo Lula, sim, bem sei que as tenho. Mas só o fato de ele ter levado adiante tantos projetos sociais e econômicos fundamentais para o crescimento do país com toda essa gente pesada contra ele, já lhe dá um bocado de crédito e um lugar na história, que lhe é diariamente negado pelas famílias que dominam a comunicação de massa no Brasil. Engraçado que nos EUA, mesmo durante os piores momentos de governo Bush, as pessoas queriam o melhor para o país. Jamais torciam contra. Aqui, os críticos querem mais é ver o Brasil afundar, só pra ver o Lula cair. [Vejam o artigo do Mino]. Pra sorte nossa, o santo do Lula é forte.

Estou aprendendo sobre a Dilma. Descobri que ao contrário do que a Folha (que emprestava carros pra transportar torturadores) diz, ela não é terrorista. É uma mulher séria, que teve uma atuação importante nesse governo e antes dele. Mas pra ser honesta nem preciso saber mais. Por que se a Folha demoniza e o Lula recomenda, claro que minha escolha já está feita.

E aos amigos que se acham o máximo do modelo democrático porque são bonzinhos com suas empregadas domésticas e cumprimentam o zelador e até dão presente de Natal pra ele, vale a reflexão de que a desigualdade social não interessa a vocês. Pode interessar aos barões da imprensa, mas, pelamordedeus, vocês não têm a mesma causa que eles! E viva o Lula!