Saturday, January 1, 2011

Por trás da foto...


Esta foto tem uma história, como quase toda foto. Ela foi tirada na Boca Maldita, centro de Curitiba, pelo fotógrafo Jader da Rocha. Naquela época, início de 1998, Lula se preparava para mais uma eleição, que mais uma vez ele perderia. Eu era uma jornalista em crise que estava trabalhando, por apenas alguns meses, para a Revista Caras, mais exatamente nas chamadas edições regionais. E isso, há de se reforçar, não ajudava a apaziguar minha crise. A Caras Paraná teria seu primeiro número lançado, pouco depois, e como não havia equipe da revista no Paraná, usávamos free lancers para alguns perfis e eu passava uma semana por lá, cumprindo o maior número possível de pautas. Depois, voltava pra redação em São Paulo para a edição dos textos. Jáder era nosso homem das imagens na terra das araucárias. Eu já estava quase tirando o time de campo de Curitiba, quando Jader me contou que Lula estava na cidade e se eu tivesse interesse poderíamos montar guarda no hall do hotel em que ele estava hospedado para tentar uma entrevista para a primeira Caras Paraná. Jader, experiente, também me alertava que seria muito difícil conseguir uma entrevista, porque a agenda do homem estava cheia e nós não tínhamos nada agendado. Além disso, contra nós, contava o nome da própria revista, não exatamente o perfil de publicação que entusiasmava Lula. Pra ser honesta, eu própria não tinha nenhum orgulho de trabalhar para a tal revista (eu me lembro de suspirar aliviada quando, por telefone, Tostão declinou gentilmente um perfil para a Caras Minas Gerais...). De qualquer forma, eu racionalizava que seria o máximo, em meio aos burgueses-padrão, estampados nas páginas de Caras, ter a cara do Lula que, naquele tempo, talvez mais do que hoje, causava coceira na chamada beautiful people que abria as portas das mansões para a revista.
Ficamos no hall do hotel e um assessor nos persuadia a desistir. Esperamos mais um tanto e Lula apareceu. Ele foi simpático ao me explicar que os repórteres da Caras em Brasília viviam tentando convencê-lo a aparecer em algo, mas ele me perguntou: “Você acha que tem cabimento eu posando pra Caras?” Não sei de onde me veio a inspiração, mas eu me postei na frente dele, olho no olho, e disse: “Lula, meu primeiro voto pra presidente foi pra você e antes de poder votar eu distribuí santinhos na porta de casa, quando você se candidatou a governador de São Paulo, em 82. Você me faria muito feliz aparecendo na primeira edição da revista deste estado”. Ele respirou fundo, talvez porque tenha percebido minha sinceridade (ou teimosia...), e propôs: “Olha, posar pra foto não dá, mesmo. Mas que tal se a gente fosse ali na Boca tomar um café e o fotógrafo tirasse fotos enquanto a gente anda e conversa?” Claro que Jader e eu topamos na hora. Eu não me lembro bem como foi nossa curta caminhada da porta do hotel até o café que fica ali, bem perto do prédio do antigo Bamerindus, o Palácio Avenida. À porta do café, havia um engraxate que convidou o Lula pra lustrar os sapatos. Foi a deixa: Jader fez as fotos de Lula na cadeira do engraxate, mas dessa vez tendo os próprios sapatos engraxados. Foi essa a foto que saiu na revista, com uma nota curtinha,  uma bobagem qualquer dando conta de que Lula havia passado por Curitiba em sua pré-campanha. Mas antes de Lula voltar ao hotel e às muitas obrigações da agenda do dia, ele me chamou e pediu pra Jáder tirar uma foto da gente. Ele realmente percebeu que aquele momento era importante pra mim. Jáder bateu a foto e eu me esqueci dela, até que recebi uma cópia linda com um bilhetinho do Jader, ele também totalmente consciente do significado daquele breve encontro na minha vida. Naquela e todas as outras eleições de Lula depois disso, eu já estava vivendo fora do Brasil, acompanhando de longe a jornada fenomenal do
operário nordestino. A foto, guardada com carinho e orgulho, foi exibida a amigos e parentes algumas poucas vezes. Recentemente, em visita ao Brasil, um primo perguntou: “Você ainda tem a foto com o Lula? “ Respondi que, claro, tenho. “E você ainda acredita no Lula” . E a resposta seguiu o mesmo tom: “Sim, acredito!”. Ele sorriu aliviado.
Valeu Lula!!! Por ter honrado minha esperança. E boa sorte, Dilma!  
Como disse Dilma Roussef hoje, que o Brasil possa ser um país cada vez menos desigual. 
Feliz 2011 pra todos nós que acreditamos!