Tuesday, October 11, 2011

Eu não dou conta… Demorou todo esse tempo pra eu admitir. Primeiro muito pra dentro, de um jeito que até pra mim, dentro de mim, era difícil escutar. Depois, com essa dor de cabeça demolidora que me domina nos últimos dias, fui meio que suspirando. Não dou conta de preparar as aulas, ser boa professora, ser sorridente, entusiasmada, inteligente... Ser boa mãe, eficiente, carinhosa, severa na medida, sábia e compreensiva. Não dou conta de ser mulher de homem tão lindo, tão pleno, tão meu. Não dou conta de manter o chão minimamante limpo, os livros lidos, a roupa no lugar, os artigos escritos, a cozinha impecável, o currículo atualizado, a vida analisada. Não dou conta de buscar e conseguir um emprego melhor, que me faça sentir mais digna, mais importante. Eu não dou conta nem de chorar, porque isso a tal maturidade também levou de mim. Desaprendi a chorar. Vai ver que por isso toda mulher dessa idade, dessa certa idade, vira meio bruxa. Vira lenda, vira bicho... e tudo o que eu sonhava era tão somente virar a mesa. Essa mesa que me mantém aqui, me sufocando, instigando e lembrando que eu não dou conta...

Wednesday, August 3, 2011

Noite na Espanha


Uma história familiar para ninar el niño

Algumas noites atrás, por falta de histórias novas, meu filho, um pequeno devorador de livros, me pediu pra inventar uma história qualquer. Eu, que em outros tempos me virava em conto, a troco de qualquer ideia, por besta que fosse, me vi em apuros. A criatividade tem minguado, bem sei. E com meu menino estendendo seus olhos grandes , na expectativa de uma boa história, me intimido. Às vezes capitulo. Proponho uma canção, assim já pronta, que eu simplesmente cante, na minha voz hesitante, e vez por outra fora de tom, mas que já está no repertório da casa, na ponta da língua. Aquela noite, porém, era diferente. Estávamos cansados do dia intenso de passeios em Granada,cidade- estrela da Andaluzia. Depois de um banquete de vistas a partir das torres dos castelos; de subir e descer escadarias e ruas de pedra, descansávamos numa casinha branca, encrustada num vale na vila de Pinos Genil, uns poucos quilômetros fora de Granada. Isso tudo, sim, inspirava história.

Uma das vistas de Granada, a partir de Alhambra
Eu e André, na simpática vila de Pinos Genil.
Foi então que decidi pela primeira vez contar ao André um outro tipo de ficção; uma história que ouvi muitas vezes durante a infância, provavelmente aumentada ou alterada, mas que de tanto ouvir foi se desenhando como fato na minha cabeça, sem nunca perder um gostinho de mito, um certo encantamento dos contos de fada. Vir a Granada, afinal, era o que eu precisava para depois de todos estes anos me reencontrar com esse conto familiar e reparti-lo com meu filho.
De alguma parte dessa Granada velha, caliente, convidativa vieram meus bisavós,Christóban e Francisca, pais de meu avô materno. Provavelmente porque o bisavô morreu quando meu avô era ainda muito menino, pouco figurava nas histórias recontadas. Era como se nosso vínculo com a Espanha viesse somente da bisavó. Ela que morreria bem mais tarde, mas antes do meu nascimento. Ela que, de fato, morreu há exatos 50 anos, e que por muito tempo alimentou as fantasias desses bisnetos que ela nunca chegou a conhecer.
Foi sempre sobre ela, a “Vó Chica”, que ouvimos falar:  uma mulher forte, não exatamente amada por todos;  uma matriarca durona cuja autoridade fazia tremer os três varões, seus filhos, um deles meu avô querido.
Vó Chica teria sido uma espécie de viúva negra: casou-se três vezes e três vezes enviuvou, criando os filhos sozinha. Contam que ela amava Christóban, nosso bisavô, mas que ele não era o eleito da família. Diante da oposição familiar, ela teria então se casado com um toureiro, o qual morreria vítima de um touro, já no primeiro ano do casamento. Graças  aos humores do tal touro, Francisca, então viúva e sem filhos, teria finalmente se casado com Christóban, segundo nossa lenda familiar, sua verdadeira paixão.  Do casamento nasceu o primeiro filho, Sebastião (imagino que Sebastian, tenha sido seu nome originalmente) e pouco tempo depois, por razões que nunca constaram das nossas histórias, a pequena família rumaria para o longínquo Brasil. Diz-se que, à época, vó Chica já trazia no ventre o segundo filho, meu avô, Antônio, que nasceu em abril de  1917 em terras brasileiras, mais precisamente na cidade de Santos, onde o navio que trouxera sua família aportara.
 Meu avô contava que em Santos morou no Morro Mont Serrat e que enquanto a mãe lavava roupas para fora, o pai carregava de tudo nas docas do Porto de Santos, em torno do qual a vida dos moradores do morro em grande parte girava. Meu avô não se lembrava do pai, mas tinha ouvido que ele bebia muito, e como em vez de escrever poesias levava peso nas costas, o álcool e as noites no cais não faziam dele exatamente um herói romântico.  Mas como um poeta finissecular boêmio, o bisavô teria morrido de um mal do pulmão.
Ao que consta, enquanto Christóban trabalhava nas docas do Porto de Santos, a mulher lavava roupas para fora. Uma pesquisa rápida mostrou que desde o fim do século XIX, até as primeiras décadas do século XX, Santos era conhecida como a “Barcelona brasileira”, tal era o número de espanhóis na cidade, proporcionalmente em relação ao resto do país. Uma das razões cogitadas para isso é que os espanhóis, ao contrário dos imigrantes italianos, por exemplo, eram citadinos. Teriam vindo em busca de fazer fortuna ou pelo menos refazer a vida em atividades urbanas. Tal como Christóban e Francisca, muitos dos moradores do morro trabalhavam no porto ou prestavam serviços como a lavagem de roupas. Descobri também que o Monte Serrat, morro santista onde viveram meus antepassados, era dividido por espanhóis e portugueses, na maioria. Talvez por isso, quando se casou pela terceira vez, tenha sido um português o marido escolhido por Vó Chica. Foi a ele que meu avô conheceu como pai e com ele vó Chica teria seu terceiro filho, outro Antônio! Único caso que conheço de irmãos que têm o mesmo nome... Diz a lenda que o marido português queria um filho Antônio e como meu avô não era seu filho biológico, não valia… Eu me lembro bem deste tio-avô que conhecíamos por Tio Russo. Como ele era bem mais claro que os irmãos, ficou assim designado. A alcunha, ainda que estranha, deve ter facilitado a vida da família, com seus dois Antônios...
Não se sabe bem quais as razões, mas a família aumentada deixaria Santos, com sua extensa comunidade espanhola, e como tantos agricultores rumaria para o oeste paulista. Mas sei que o terceiro casamento também não durou muito, porque o tétano, naquela época ainda ameaçador, clamou a vida do português e levou Vó Chica à sua terceira viuvez. 
Foi em Araçatuba, a terra do "boi gordo", lavando e engomando pra fora, que ela criou os filhos. Sentindo o calor que faz no verão de Granada, imagino que o calorão de Araçatuba não tenha intimidado minha destemida bisavó; me enche de tristeza, porém, pensar que ela jamais pousou os olhos novamente na beleza dessa sua terra natal. Eu não tenho dúvida que ela fez do Brasil, seja  em Santos seja em Araçatuba, sua pátria. Sempre nos fizeram crer que seu pragmatismo não deixava espaço para saudades e devaneios e isso, de alguma forma, me conforta. Ao morrer, a matriarca que usava o cabelo trançado preso na altura da nuca, deixou uma casa para cada filho: uma propriedade ao lado da outra. A casa menor para o filho caçula, que tinha só dois filhos, e a maior para meu avô, pai de 12 crianças!
Enquanto André adormecia pensando nessa história tão distante que parecia ter saído de um dos castelos de Alhambra, eu ouvia Genil, o riozinho que corta o pueblo. Em vez de prece, ofereci esse canto do rio e sua brisa à memória de Vó Chica, cujo legado dividi com meu filho,  na terra onde ela nasceu.

Monday, July 4, 2011

O anti-diário de Lisboa

Palavras e monumentos

Eu e nosso amigo, Craig, em frente ao imponente 
D. José I, na Praça do Comércio,
a mais linda de Lisboa.Foto: Derek Pardue
Monumento original em pedra, de autoria de António Teixeira Lopes, que homenageia Eça deQueirós. Chama-se “Verdade” e teria sido livremente  inspirado em uma frase do próprio Eça, de A Relíquia: «Sobre a nudez forte da verdade, o manto diáfano da fantasia». A verdade, neste caso,é representada por um sensual corpo de mulher. Foi inaugurada em 1903, mas anos atrás a obra foi vandalizada e recolhida de seu sítio original, à Praça Barão de Quintela, na Rua do Alecrim, e levada para restauro no Museu da Cidade. Hoje restaurada, continua lá, enquanto uma réplica em bronze ocupa o espaço da Barão de Quintela. Foto: Derek Pardue




Um Narciso se mira no laguinho do Jardim da Estrela. Foto: Selma Vital

Um pavão de verdade, 
brincando de estátua. 
No Museu da Cidade. Foto: Derek Pardue

 
Eu tenho prestado muita atenção às palavras. Por grande parte da minha vida o tenho feito, é certo. Mas nessa temporada em Lisboa, minha obsessão tem chegado a novos níveis. Mesmo assim, registrar minhas descobertas, encantamentos, dúvidas parece impossível por palavras. Essa é a grande questão que me aflige. De novo, um questionamento (e uma aflição?)que vem de longe e que se renova, muda de intenções, se carrega de outras perguntas e poucas, bem poucas, respostas.
Talvez eu devesse renunciar à pretensão de registrar meus dias aqui com algum glamour. O céu da cidade, seus becos, ruelas, e o Tejo azul sempre à espreita (ou a ser espreitado), dispensam tradução. Ou será que gritam por ela? O que os turistas alemães estarão escrevendo em seus diários de viagem? E os franceses, oui? Ai pobre de mim,  pensar que as pessoas ainda escrevem diários. Mas escrevem blogs e text messages ou pequenas notas a si próprios, tenho visto. Fotos de tudo, de cada curva tremulante de dentro e de fora do bondinho elétrico, cada pequena excentricidade dessa cidade velha, que não se dá por isso. Eu gosto de observar os ângulos e os motivos para os quais os turistas lançam seus cliques gulosos. Enquanto eles miram as câmeras modernas, eu mantenho o foco neles,  com esses meus olhos míopes e já antigos, bem guardados atrás dos óculos de sol.
No último mês, todo dia, sem exagero, tenho visto, sentido, algo que deveria ser posto no “papel” e me desculpo, enrolo e deixo a chance passar até que a memória não me venha mais em frases, somente em imagens desvanecidas. E não se pode falar desse lugar em pálidas pinceladas. Quem sabe toda tentativa de “contar” a cidade seja isso, somente, um borrão da realidade.
Que difícil transformar as sólidas pedras dos castelos e suas torres agudas numa pintura impressionista. A abstração, no entanto, parece só minha. Há estátuas por toda parte. Parecem revelar uma certa  obsessão. Ibérica?  São heróis, poetas, desbravadores, “descobridores”. Quase todos homens. Estátuas femininas são na maioria imagens semi- nuas, ninfas, silhuetas arredondadas ao estilo das deusas gregas ou romanas.Mas há a cabeça em bronze , sem poesia, de Sophia Breyner Andresen , solitária, eternamente vigiando o Tejo, ao pé (como dizem aqui...) da igreja da Graça. E enquanto há aqueles monumentos imponentes, homens pra sempre aprumados em seus cavalos de bronze carcomidos pelo coco dos pombos, como um o D. Pedro IV varonil ao centro de uma praça, --que no Brasil foi o nosso imperador/libertador, Pedro I –há João de Deus, surpreendentemente pequenino e carrancudo, em seu terno de poeta, sentinela do bonito Jardim da Estrela.
Quem sabe se pudesse contar a história dessa cidade pelas suas estátuas e monumentos. Seus tributos de ferro e bronze que nos lembram a todo instante, na formalidade de seu porte e na decadência de sua estrutura, o quanto esse país, ainda hoje, se faz de nostalgia.
Aqui, agora, eu vejo um rasguinho de lago e mesmo cercada de árvores, de patos endoidecidos pela provocação dos “miúdos”, cantando ou simplesmente se fazendo ouvir, ainda me chega o som abafado dos carros e dos aviões que passam rente ao jardim, alguns já com as rodas de pouso baixadas, prontas para a aterrissagem. “Uma ilha verde no meio da cidade”, eu respondo a um grupo de crianças que acaba de me entrevistar. Elas olham desconfiadas.  Uma mulher solitária, como a cabeça da poetisa Sophia, mas com sotaque inconfundivelmente brasileiro, teclando seu lap top sem poesia à sombra dessas árvores portuguesas. Em busca, claro, de palavras. De palavras-monumentos Não, de palavras simplesmente.

Friday, April 22, 2011

Ao Redor do Mundo: Leituras em Português

Acaba de sair um livro que reúne textos de professores de português, estudantes e gente interessada no aprendizado da língua e da cultura lusófona, em geral. Para comprar ou simplesmente saber mais sobre o livro, clique aqui . O livro sai pela Atlantico Books, cuja dona, Elena Como, é apaixonada pela nossa cultura e nossa língua, aparentemente em todas as suas variantes.

A ideia é que o livro sirva como um reader  para alunos de português nos Estados Unidos e embora cada texto tenha um tom e um tema, a diversidade parece interessante, porque oferece várias formas de uso em sala de aula. Eu também contribuí com um texto, uma amostra de uma pesquisa que iniciei com uma bolsa, David Rockefeller Center for Latin American Studies Library Scholar Summer Grant, em 2009, que me permitiu ficar um mês em Boston, acessando as coleções das bibliotecas de Harvard. O texto se chama “Homens de letras, mulheres de papel: a delicada relação entre escritores e leitoras no Brasil do século XIX”e,  embora o tema seja acadêmico, eu me esforcei para que a leitura fosse bem acessível .Espero ter acertado a mão. Mas há, como disse, narrativas de gêneros distintos e para diferentes gôstos.

Este é o segundo livro lançado pela Elena e eu espero que o trabalho possa se profissionalizar mais e mais, abrindo espaço para várias outras publicações.Quem ensina português por aqui sabe que a carência de material didático ainda é grande na nossa área. Um outro detalhe superlegal é que a capa do livro é de Anne Popiel, uma ex-aluna que além de línguas e arte, ainda navega por filosofia e dança. Confira!

Tuesday, April 12, 2011

MA BRAZIL IN A GLOBAL PERSPECTIVE

The MA Brazil in Global Perspective is the first academic
programme to be developed by the King’s Brazil Institute. It
offers students a distinctive approach to understanding recent
changes in Brazil and the causes and impact of its social,
cultural, economic and political development. It includes
examination of issues such as industrialisation, urbanisation,
economic growth and globalisation; oscillation between military
and civilian rule; mass movements demanding a variety of civil,
political, and economic rights; complicated and contested
constitutional, legal and political reforms; and cultural and
social change.

The programme provides high quality postgraduate teaching and
research training for students wishing to specialise on Brazil,
either out of academic interest or as preparation for a career
related to Brazil. In addition to broadening and deepening
students’ understanding of modern Brazil, the programme
demonstrates the value of a variety of different theoretical
perspectives and research methods used in the analysis of the
country. The programme also allows students to study Brazil in
global and comparative perspective; on the one hand, it will be
possible to compare Brazil with the emerging powers China and
India, by taking modules offered by the China and India
Institutes; on the other, it will be possible to situate Brazil
within its regional context, by taking optional modules on Latin
America.

KEY PROGRAMME BENEFITS
The only programme of its kind in the UK.

An interdisciplinary perspective, allowing students to deepen
their understanding of Brazil in a range of subject areas.

A wide range of optional taught modules drawing on King’s-wide
expertise.

An opportunity to take modules offered by the China and India
Institutes.

A unique location in the heart of London. Students enjoy
excellent academic, social and cultural opportunities, unrivalled
access to library and archival resources, and easy access to
resources in Europe.

PROGRAMME STRUCTURE
The MA Brazil in Global Perspective is a 12 month programme, and
may be taken full time over one year or part time over two years.
The programme consists of 180 credits: a 60 credit dissertation,
60 credits of taught core and compulsory modules, and 60 credits
of optional modules.

FURTHER INFORMATION
King’s Brazil Institute website:
King’s Graduate Prospectus:

CONTACT
Professor Anthony Pereira, King’s Brazil Institute, Strand,
London WC2R 2LS, Email: anthony.pereira@kcl.ac.uk

Source: BRASA (Brasilian Studies Association) Digest # 331, April 11 2011

Saturday, April 9, 2011

The war on the poor


“This is a moral issue; the budget is a moral document. We can take care of the deficit and rebuild our infrastructure and strengthen our safety net by reducing military spending and eliminating corporate subsidies and tax loopholes for the rich. Or we can sink further into debt and amoral individualism by demonizing and starving the poor. Which side are you on?”
Mark Bittman, Time’s magazine food columnist, food critic

I'm not religious; I have no faith, except in the human capacity of doing good and bad things. But I feel offended by those claiming to be Christians while at the same time attacking the poor! If I remember correctly from my times at church, Jesus Christ was about compassion and protecting the weak. Those, voting at the Congress to stop basic social benefits to the poor, should, at least, be ashamed of calling themselves Christians...They continue the revolting saga of eliminating the poor not the poverty.

Sunday, February 20, 2011

Terras: um “documentário” muito pessoal


FICHA TÉCNICA:
Terras
Brasil, 2009, 75 min, 35 mm, cor, Dolby Digital

Direção: Maya Da-Rin
Produção: Sandra Werneck
Fotografia e câmera: Pedro Urano
Montagem: Karen Akerman / Maya Da-Rin / Joaquim Castro
Pesquisa: Daniel Bueno, Geraldo Pereira, Luiza Leite, Maya Da-Rin e Pedro Cesarino

Terras é um filme que exibe linda fotografia. E avaliar um filme dessa maneira sempre me pareceu suspeito. Eufemismo para filme ruim?   No meu caso, não necessariamente. Mas uma forma simplificada de traduzir uma ideia: não posso dizer que o filme seja ruim, porque não é, mas também não posso dizer que o filme seja bom. Pois então, dentro da minha própria categorização sem método,  tenho de concordar que Terras tem, de fato, uma bela fotografia.
Talvez a culpa seja toda minha. Fui advertida que se tratava de um filme experimental, mas insisti em acreditar que veria um documentário, porque bem antes de o título ser integrado à exibição da artista mineira,  Rivane Neuenschwander , eu havia visto o trailer.
Sou louca por documentários. Lembro de um tempo em que documentário era como dever de casa: importante para o aprendizado, mas sobretudo um dever e, como tal, chato. Recentemente, a coisa evoluiu tanto que documentário perdeu o caráter de obrigação e invadiu a praia do prazer, puro e simples; e de quebra a gente ainda pode deixar a sala de cinema ou o sofá de casa com a sensação (boa) de ter aprendido algo. A grande decepção que me causou o filme de Maya Da-Ri vem daí e do fato de que muito esporadicamente posso me dar ao luxo de ir ao cinema com o marido, numa noite qualquer da semana. A ocasião, portanto, acendeu ainda mais a fogueira das expectativas. O que aprendi, de fato, é que um documentário pode, também, ser experimental. Com tudo o de positivo e negativo que a definição encerra.
Eu ouvi falar desse filme por meio de um anúncio do Porta Curtas Petrobrás. Como disse, vi o trailer e me pareceu interessante a ideia da confluência de três cidades: Letícia (Colômbia), Tabatinga (Brasil) e Santa Rosa (Peru): a imagem de uma fronteira tripla borrada, em que povos indígenas, unidos pela etnia, se viam separados pela criação de estados, com suas leis e bandeiras. Como plot de documentário,  isso soava simplesmente perfeito. Imediatamente, fiquei achando que o filme seria uma forma interessante (e bonita) de me embrenhar em algo que passa longe do meu dia-a-dia, uma promessa pra cinéfilo nenhum desdenhar e irresistível pra quem, como eu,  ama histórias.O trailer , de fato, não fez todas essas promessas. Então por que acreditei que iria  acompanhar a vida de personagens reais e conhecer suas perspectivas, visitando essas terras longínquas?
Infelizmente, deixei minha expectativa traçar um prospecto que, certamente, não coincidia com o da diretora.  Além disso, tema não  é tudo. Qualquer expectador de documentários sabe que mesmo o assunto mais interessante precisa da mão precisa de um (a) cineasta, prefrencialmente um(a) documentarista,  para trazer à tona as perguntas, mesmo que não se tenha as respostas. Ainda que o tema não esteja na nossa lista de preocupações cotidianas ou profissionais, desde que devidamente apresentado, ele pode definitivamente entrar para o seu raio de visao e de atenção ou afeição.Nunca parei particularmente para pensar sobre pinguins, mas me vi emocionada e intrigada com a vida que eles levam, depois de A Marcha dos Pinguins (La marche de l'empereur, Luc Jacquet, 2005 ) . Eu sequer tinha ouvido falar do francês que cruzou o espaço entre as torres gêmeas caminhando sobre um fio de aço e dificilmente alguém me convenceria da relevância desse feito. Quando vi Man on Wire ( James Marsh, 2008), no entanto, descobri outras coisas fascinantes sobre o ser humano. Uma surpresa se pensarmos que, à primeira vista, trata-se de um episódio bizarra e cruamente egocêntrico. 
Minha ignorância e desinteresse eram igualmente enormes com relação ao caso de abuso sexual que condenou Roman Polanski a nunca mais voltar aos Estados Unidos. Até que o documentário (Roman Polanski: Wanted and Desired, Marina Zenovich, 2008) sobre o caso me ensinasse muitíssimo sobre temas como a vaidade humana e o poder de manipulação da mídia, sem contar as falácias da justiça, na figura de seus juízes. Fiquei impressionada com o quanto eu desconhecia a história recente dos Estados Unidos quando vi The Most Dangerous Man in America: Daniel Ellsberg and the Pentagon Papers, 2009 (dirigido por Judith Ehrilich and Rick Goldsmith). O documentário trata do vazamento de papéis confidencias do Pentágono, numa manobra corajosa de Ellsbsberg para tentar acabar com a guerra no Vietnã.
Não é que Maya Da-Rin não saiba o que faz. Ao que consta, ela tem pelo menos outros dois documentários no curriculum e, para manter uma certa “tradição”’ no mundo do cinema brasileiro, é filha de cineasta. No caso, a mãe é Sandra Werneck, que em Terras dá as bênção à filhota assinando a produção. Maya tem olho para o curioso (note as tomadas, de Letícia, suponho, feitas por debaixo dos carros); para o belo e inusitado, como as cenas da chuva torrencial sobre os barquinhos protegidos por frágeis guarda-chuvas na imensidão do rio. Sua forma de documentar é extremamente pessoal e muito sensível. A cineasta parece querer nos convencer que a imagem da terra, dos troncos das árvores e das matas pode sobrepujar todo o resto.  
Para mim, o resto foi exatamente a narrativa que faltou. Ao sair da exibição de Terras, sobrou a vontade de saber mais sobre aquelas pessoas sem nome, que surgiam ao acaso, como as àrvores e as imagens do rio e do solo. Ainda que gostasse de ver as imagens feito pinturas e as  longas tomadas, cuidadosamente registradas pelas câmeras sob a direção de Maya Da-Ri, queria, como já disse, aprender mais. Queria ouvir histórias, as quais, estou certa, devem jorrar nesse lugar tão marcado pela tradição oral. Queria saber o que distingue as cidades rachadas pelas fronteiras. A passagem, por exemplo, em que um grupo de pessoas toma a  Ayauasca, sobre a qual nada foi dito e explicado, fica flutuando em mistério, com um exotismo a meu ver desnecessário.
Vou ter de esperar por outro documentário.  Ou, quem sabe, pela possibilidade, remota, de ir ver essas terras por mim mesma, sem o auxílio luxuoso de uma lente com subjetividade própria. Que os documentaristas se compadeçam dessa minha alma curiosa que, claro, também aprecia uma bela fotografia.

Saturday, February 19, 2011

Top 10 Shocking Attacks from the GOP War on Women

1) Republicans not only want to reduce women's access to abortion care, they're actually trying to redefine rape. After a major backlash, they promised to stop. But they haven't.
2) A state legislator in Georgia wants to change the legal term for victims of rape, stalking, and domestic violence to "accuser." But victims of other less gendered crimes, like burglary, would remain "victims."
3) In South Dakota, Republicans proposed a bill that could make it legal to murder a doctor who provides abortion care. (Yep, for real.)
4) Republicans want to cut nearly a billion dollars of food and other aid to low-income pregnant women, mothers, babies, and kids. 
5) In Congress, Republicans have proposed a bill that would let hospitals allow a woman to die rather than perform an abortion necessary to save her life.
6) Maryland Republicans ended all county money for a low-income kids' preschool program. Why? No need, they said. Women should really be home with the kids, not out working.
7) And at the federal level, Republicans want to cut that same program, Head Start, by $1 billion. That means over 200,000 kids could lose their spots in preschool.
8) Two-thirds of the elderly poor are women, and Republicans are taking aim at them too. A spending bill would cut funding for employment services, meals, and housing for senior citizens.
9) Congress voted yesterday on a Republican amendment to cut all federal funding from Planned Parenthood health centers, one of the most trusted providers of basic health care and family planning in our country.
10) And if that wasn't enough, Republicans are pushing to eliminate all funds for the only federal family planning program. (For humans. But Republican Dan Burton has a bill to provide contraception for wild horses. You can't make this stuff up).
 Yeah, they are back to action and they will do all possible to take away rights conquered with a lot of effort. It is our duty to stop their shameful proposals and politics.
Source: MoveOn.org

Thursday, February 10, 2011

Atenção cineastas de plantão!


Festival Internacional Lume de Cinema

O Festival Internacional Lume de Cinema é promovido e organizado pela Lume Filmes e acontecerá  em São Luís (MA) entre 14 e 23 de Julho de 2011
O Festival conta com uma mostra competitiva de longas metragens, na qual serão exibidos  doze longas nacionais e estrangeiros. Na categoria curtas,  24 filmes devem participar. Além da mostra oficial,  a Mostra Olhar Crítico, também competitiva, vai contar com dez  filmes  autorais, experimentais e independentes.  Cada mostra será avaliada por um júri específico e independente.
O festival promete ainda retrospectivas, sessões especiais, workshops, cursos, palestras e debates. O Teatro Arthur Azevedo vai ser o principal palco do evento, que também terá exibições no Cine Praia Grande e em espaços públicos como praças, auditórios e colégios.

Ainda é possível  enviar filmes para o festival .  As inscrições estarão abertas até o dia 15 de maio. Para saber mais acesse o site da Lume Filmes.

Saturday, January 1, 2011

Por trás da foto...


Esta foto tem uma história, como quase toda foto. Ela foi tirada na Boca Maldita, centro de Curitiba, pelo fotógrafo Jader da Rocha. Naquela época, início de 1998, Lula se preparava para mais uma eleição, que mais uma vez ele perderia. Eu era uma jornalista em crise que estava trabalhando, por apenas alguns meses, para a Revista Caras, mais exatamente nas chamadas edições regionais. E isso, há de se reforçar, não ajudava a apaziguar minha crise. A Caras Paraná teria seu primeiro número lançado, pouco depois, e como não havia equipe da revista no Paraná, usávamos free lancers para alguns perfis e eu passava uma semana por lá, cumprindo o maior número possível de pautas. Depois, voltava pra redação em São Paulo para a edição dos textos. Jáder era nosso homem das imagens na terra das araucárias. Eu já estava quase tirando o time de campo de Curitiba, quando Jader me contou que Lula estava na cidade e se eu tivesse interesse poderíamos montar guarda no hall do hotel em que ele estava hospedado para tentar uma entrevista para a primeira Caras Paraná. Jader, experiente, também me alertava que seria muito difícil conseguir uma entrevista, porque a agenda do homem estava cheia e nós não tínhamos nada agendado. Além disso, contra nós, contava o nome da própria revista, não exatamente o perfil de publicação que entusiasmava Lula. Pra ser honesta, eu própria não tinha nenhum orgulho de trabalhar para a tal revista (eu me lembro de suspirar aliviada quando, por telefone, Tostão declinou gentilmente um perfil para a Caras Minas Gerais...). De qualquer forma, eu racionalizava que seria o máximo, em meio aos burgueses-padrão, estampados nas páginas de Caras, ter a cara do Lula que, naquele tempo, talvez mais do que hoje, causava coceira na chamada beautiful people que abria as portas das mansões para a revista.
Ficamos no hall do hotel e um assessor nos persuadia a desistir. Esperamos mais um tanto e Lula apareceu. Ele foi simpático ao me explicar que os repórteres da Caras em Brasília viviam tentando convencê-lo a aparecer em algo, mas ele me perguntou: “Você acha que tem cabimento eu posando pra Caras?” Não sei de onde me veio a inspiração, mas eu me postei na frente dele, olho no olho, e disse: “Lula, meu primeiro voto pra presidente foi pra você e antes de poder votar eu distribuí santinhos na porta de casa, quando você se candidatou a governador de São Paulo, em 82. Você me faria muito feliz aparecendo na primeira edição da revista deste estado”. Ele respirou fundo, talvez porque tenha percebido minha sinceridade (ou teimosia...), e propôs: “Olha, posar pra foto não dá, mesmo. Mas que tal se a gente fosse ali na Boca tomar um café e o fotógrafo tirasse fotos enquanto a gente anda e conversa?” Claro que Jader e eu topamos na hora. Eu não me lembro bem como foi nossa curta caminhada da porta do hotel até o café que fica ali, bem perto do prédio do antigo Bamerindus, o Palácio Avenida. À porta do café, havia um engraxate que convidou o Lula pra lustrar os sapatos. Foi a deixa: Jader fez as fotos de Lula na cadeira do engraxate, mas dessa vez tendo os próprios sapatos engraxados. Foi essa a foto que saiu na revista, com uma nota curtinha,  uma bobagem qualquer dando conta de que Lula havia passado por Curitiba em sua pré-campanha. Mas antes de Lula voltar ao hotel e às muitas obrigações da agenda do dia, ele me chamou e pediu pra Jáder tirar uma foto da gente. Ele realmente percebeu que aquele momento era importante pra mim. Jáder bateu a foto e eu me esqueci dela, até que recebi uma cópia linda com um bilhetinho do Jader, ele também totalmente consciente do significado daquele breve encontro na minha vida. Naquela e todas as outras eleições de Lula depois disso, eu já estava vivendo fora do Brasil, acompanhando de longe a jornada fenomenal do
operário nordestino. A foto, guardada com carinho e orgulho, foi exibida a amigos e parentes algumas poucas vezes. Recentemente, em visita ao Brasil, um primo perguntou: “Você ainda tem a foto com o Lula? “ Respondi que, claro, tenho. “E você ainda acredita no Lula” . E a resposta seguiu o mesmo tom: “Sim, acredito!”. Ele sorriu aliviado.
Valeu Lula!!! Por ter honrado minha esperança. E boa sorte, Dilma!  
Como disse Dilma Roussef hoje, que o Brasil possa ser um país cada vez menos desigual. 
Feliz 2011 pra todos nós que acreditamos!