Sunday, August 29, 2010

O que teria acontecido a Tininha Hortelã?

Uma personagem adolescente, quinze anos depois

Em 1995, Tininha Hortelã nascia. Mas não era uma recém-nascida, no sentido literal da palavra. Tinha 13 anos e muitas ideias. A personagem surgia da união da minha vontade de escrever ficção com a necessidade (também minha) de fazer frente ao personagem masculino da revista, Ed Mosca. Que reinava absoluto num meio cujo o público leitor, se compunha, na maioria, de meninas. Nunca entendi muito essa obsessão das mulheres em saber o que pensam os homens sobre nós, mulheres. E, de fato, sempre duvidei que as revistas, ou jornais, soubessem exatamente o que seus leitores desejavam. Mas o sucesso do Ed Mosca era inegável.

Eu sabia, no entanto, que a Carícia, pelo menos naquela fase, não se propunha a ser uma pré-cosmopolitan, digo, uma revista Nova mirim. Por isso me irritava que tivéssemos um personagem que, apesar de engraçado, fosse tão caricaturalmente machista. Célia Cassis, minha redatora-chefe de então, foi por assim dizer a madrinha de Tininha, apesar de fã do Ed Mosca. Ela poderia simplesmente ter recusado o espaço que eu precisava para publicar as historinhas, mas comprou a ideia e só por isso Tininha teve acesso a suas pequenas (o formato da revista era o de um livro) duas páginas mensais.

Muito do que não acontece na imprensa, em geral, incluindo a chamada imprensa de variedades, é menos culpa do bam bam bam, dono do empreedimento jornalístico, do que do repórter, do editor. Há uma espécie de auto-censura, meio admitida, um tanto estimulada, pra se ficar nos limites do seguro (e do afável) com seus superiores. Célia, felizmente, nunca jogou nesse time. Já vi muita gente se adiantando ao editor e reforçando práticas discriminatórias ao cortar falas de entrevistados -- sem contar os próprios-- e justificando pra si, e diante dos outros, que a fala, a foto, ou seja lá o que for, jamais teria chance de ser publicada. Tudo isso antes mesmo de testar essa possibilidade. Entre os poucos arrependimentos profissionais que carrego, lamento não ter, naquela época, me posicionado mais forte e decididamente em defesa do que eu acreditava.

Outra coisa que me aborrecia sobremaneira era o mantra geral dentro das redações de que a leitora é burra. É preciso explicar tudo ou simplesmente cortar o que parece “complicado”, dizia-se. Como já escrevi em posts anteriores, abomino lugar-comum. E nem preciso dizer que a frase feita é o pão e a manteiga nas redações. Voltando à Tininha, ela queria ser , ou eu queria que ela fosse, cômica, reflexiva, uma menina comum, mas nunca superficial. Queria pintar uma garota inteligente, curiosa e que, como todo mundo, pisava na bola muitas vezes. Algumas dessas pisadas eram analisadas por ela. Uma análise, claro, dentro do repertório adolescente, sem grandes pretensões. Natália, uma ilustradora argentina, radicada há anos no Brasil, criou a cara da Tininha. Um perfil físico que, pelo que lembro, ficava mais ou menos dentro dessa descrição: nem feia nem linda, mas com jeito de quem está sempre antenada, por dentro de tudo.

Algumas das crônicas me encheram de orgulho e eu as guardo com grande carinho. Outras são apenas OK. Mesmo assim, o desafio de produzir a Tininha e ter de me colocar na pele de uma adolescente quando eu já entrava nos meus trinta, foi uma experiência marcante. De alguma forma, eu queria que nossas leitoras se tocassem do poder que tinham. Pode parecer utópico, mas eu realmente acreditava que a Tininha pudesse ser uma referência de agência feminina e adolescente, especialmente para a menina mais pobre, que era o perfil da leitora de Carícia.

A direção da revista Carícia mudou e eu sabia que não poderia ficar lá por mais tempo. Ter como modelo editorial uma publicação americana de segunda categoria não estava nos meus planos profissionais ou pessoais. A revista tomava um rumo que eu não queria trilhar, defintivamente. Tininha continuou ainda por um tempo, mesmo quando eu já não fazia mais parte do time. Com as novas orientações e periodicidade da revista, ela perdeu uma página e foi ficando sem graça. Acabou desaparecendo, como a própria revista, que viveu uma espécie de morte anunciada. Algo até bem comum no meio editorial, pelo menos no brasileiro.

Durante algum tempo, pensei muito em compilar as historinhas da Tininha num livro. O problema é que não tenho direitos sobre minha personagem. Como eu não a registrei, e eu a criei num momento em que trabalhava para a Editora Azul, tudo o que escrevi era propriedade da editora. Incluindo os artigos que foram republicados na versão portuguesa da revista, em Lisboa. Nós ganhávamos uma vez, enquanto os publishers ganhavam duas... Algumas pessoas me sugeriram criar uma sósia da Tininha, com outro nome, mas nunca cheguei a pensar seriamente nisso. Acho mesmo que não conseguiria.

Escrevo tudo isso porque hoje dei pra pensar como seria Tininha Hortelã em 2010. Considerando que ela tivesse uns 13 anos em 1995, hoje ela teria 28, ainda mais jovem do que eu era quando lhe dei “vida”. Talvez ela fosse arquiteta ou veterinária. Quem sabe tivesse uma profissão que nem existia em 1995... Será que ela seria como essas garotas que querem igualdade, mas odeiam ser chamadas feministas? Será que ela estaria solteira, morando sozinha, curtindo sua independência? Ou teria se casado com um colega da faculdade e vivido (ou negado) na prática suas teorias sobre relacionamentos? Já estaria neurótica, preocupada com as pressões do relógio biológico? Se, de novo, eu tivesse que idealizar essa jovem mulher, como é que eu a vislumbraria?

Alguns dos meus primeiros alunos nos Estados Unidos hoje são mais velhos que minha fictícia Tininha. E algumas das minhas alunas são meninas/mulheres que serviriam como grande modelo pra Tininha. São livres, espertas, no melhor dos sentidos, solidárias, empreendedoras, destemidas. Acho que eu queria uma Tininha Hortelã ainda ardidinha, como a adolescente. Rebelde, sem chatice. Especialmente porque aos vinte e oito rebeldia tem que ter fundamento. E estilo, sempre. Se minha “pena” pudesse dar a essa personagem um destino, acho que ela estaria rodando o mundo. Teria conhecido muitos homens; alguns fantásticos, outros que dão aquela ressaca horrorosa no dia seguinte. Tudo conta no final. Ela iria aprender a beber vinho, pelo prazer do paladar e da malemolência boa que vem depois. Seria leitora àvida, amante de filmes e de música. Tininha iria aprender a falar uma língua estrangeria e a dançar flamenco ou a jogar capoeira. E já teria saído, pelo menos uma vez, numa escola de samba.

Puxa, tanta coisa me vem agora à cabeça que o melhor seria escrever uma história em que a Tininha se rebelasse violentamente contra as expectativas de sua criadora. Mas pra mostrar que não sou tão má, talvez eu deixasse a Tininha transferir parte desses sonhos, ou dessa carga, pra irmãzinha dela, a Marcela, ou pra filhinha que a Tininha, um dia, viesse a ter.

Friday, August 27, 2010

Midlife crisis, if you allow me the cliché


It was just a web add, at the right side of the viewer, trying to call the attention of the common internet surfer, I suppose. Like those ads urging you to refinance your house or learn a foreign language. This one, however, got me thinking longer than usual. It was short: something simple and direct, like, if you make less than $45,000 you may qualify for a grant to go back to school. I confess I read the first part with some interest. But, no, I do not qualify to go back to school because I hold a PhD degree. This means I already went back to school. And, still, I do not make the money one could believe such a degree entitles.

Of course, this is nobody’s fault, although the whole financial crisis certainly did not help at all. I don’t think it is even my own fault. Even though, some times, I wonder what I should have done differently to be part of the happy group of high educated people, with stellar careers, impressive résumés and, on the pragmatic line, pretty decent paychecks. Sometimes, most of the time to be honest, I wish I could do better than I have done.

As I mentioned above, it is important to understand that we live in a particular economical recession. Jobs are rare, apparently regardless qualifications. I also know I work with a very specific niche of knowledge. Consider for instance how many people in the US are really interested in literature and language. If this sounds kind of restrictive, imagine if this literature refers to a language that is admittedly a less taught one…

It is no surprise that being in my second career it doesn’t make things easier for me either. On the other hand, if there is any bright side to all of this it is that writing and teaching, respectively essential activities connected to my two dear careers, are the two things I like the most and what I think I do the best. This should be enough to inflate me with hope.

I know that having a nice paycheck is not what makes the biggest part of a professional story of success. I have sweet memories of teachers, when I was growing up in Brazil, who made less than half of what they deserved and, still, were amazing teachers. I remember a woman, my Portuguese teacher, (think about it as your English teacher here in the US), who taught me in sixth grade. Until today she is a source of inspiration, as a teacher and as an example of a human being. She is the first face to come to my mind when I think about someone who is competent, knowledgeable and who truly loved her work.

I also know that after over ten years of teaching Portuguese in the US, the most amazing moments I was rewarded with came from my students. There is nothing more motivating for me to keep going, every school year again and again, to the classroom than the perspective of meeting my former students and getting to know the new ones. I have never received from any institution even a smallest part of what I was granted from students along the years. Every beginning of the semester I struggle with the anxiety of meeting them and at the end of each semester I suffer when I have to let them go. And still, I miss something else…

It sounds selfish, kind of pretentious to think that the world should recognize one’s work. Well, let’s say I never shoot that high. I did start targeting a life different from my parents, that’s true. I knew from very early in life I would not accept the constraints of my childhood surroundings. It was not poverty that scared me but limitation. I just had an unstoppable desire for different perspectives to see and, later, to experiment the world. It took me years to break the walls and it seems that, for very long, for each one I could finally put down another one would present itself in front of me.

It also took me years to lose my Christian ingenuity. I would not be rewarded for being an honest, decent person. Goodness is something to choose and to practice without compensations, divine or human. Love is unconditional after all. If you believe in something that represents your values, go for it; no strings attached, no place in heaven or trophies. This certainty can make one a bit cynical, while can also lead me to believe that we do what we think is right. That is our fate or should be.

I did here what sometimes I do in class… I start teaching a simple verb and when we see we are talking about life, in which rules and conjugations explain nothing. Sorry… Let’s go back to the point, where I will leave you, since I have no answers to my major questions… I wish I could qualify for a school that would turn me into a well-paid, role-model capitalist. Although, I still doubt that I would have the answers.

Wednesday, August 25, 2010

Chorinho in DC

The Brazilian Embassy and the Kennedy Center will host
the Choro Festival, next month. Four Brazilian groups will
perform on September 2, 3, 9 and 10 always at 6pm on the
Millennium Stage, Kennedy Center. No tickets required!

For more information visit the Brazilian Embassy website.

Monday, August 16, 2010

Tiro pela culatra


O tema de hoje na blogosfera de esquerda no Brasil é a tal matéria da revista Época, revista da Editora Globo, do grupo dos Marinho. O conteúdo era previsível.
Ninguém duvidava que a descambada do Serra resultasse em jogo sujo. Alguns, como eu, imaginavam, porém, que a baixaria viesse mais perto das eleições, mas, claro que eles não iriam baixar a guarda e esperar … Só que assim como a série de “entrevistas” do Jornal Nacional acabou mostrando mais claramente o tipo de campanha do PSDB e seu envolvimento com a mídia mais nojenta, a matéria da Época trouxe um outro presente pra os militantes da campanha da Dilma: uma imagem dela, estilizada, com uma leitura pop. A ideia era dar a Dilma uma cara assustadora, de guerrilheira. Mas o que se vê na imagem é uma Dilma jovem, contestadora, destemida… Como a gente quer que ela seja! Então é isso. Passe adiante a imagem. Desde que para uso não-comercial, tá valendo…

Sunday, August 15, 2010

Publicidade infantil é covardia

Aqui em casa temos algumas regras sobre o tempo de televisão que meu filho pode assistir. Também, porque podemos nos dar ao luxo de ter DVR, gravamos previamente os programas que ele mais gosta (e, claro, que aprovamos), assim podemos pular os comerciais de produtos. Um tempo atrás, numa viagem a Chicago, chegamos ao hotel cansados e ligamos a TV . Embora não tivéssemos nos dado conta, aquela foi a primeira vez que André viu uma rodada inteira de comerciais, durante um desenho animado. Eu e meu marido observamos como ele parecia absorto por uma das chamadas publicitárias e ficamos atônitos quando, assim que o tal anúncio terminou, ele se virou pra gente e disse: “Eu quero esse brinquedo!:” Juro que é fato verídico. Poderia constar de um estudo sociológico e, tenho certeza de que não seria o único caso.
Lembro que adorava quando a TV Cultura não tinha comerciais e a criançada podia ver programas de qualidade, sem o lobo da publicidade à espreita. Sempre achei cruel ver a forma acintosa como os programas da Xuxa atiravam comerciais de iogurte, boneca, de qualquer coisa, na face de crianças pobres, que, estou certa, compunham a maioria de seu público.
Por tudo isso, gostei de ver que há um manifesto na net contra essa prática publicitária ofensiva e nociva, que tem como alvo a vulnerabilidade infantil. Mesmo que você não tenha filhos, vale a pena visitar o site http://www.publicidadeinfantilnao.org.br/ , ver o vídeo sobre o assunto e assinar o manifesto. Eu já o assinei. E encorajo meu poucos e queridos leitores a passar a ideia adiante.
Em nome de todas as crianças que você ama.
Paz!

Friday, August 13, 2010

Feminismos e caminhada...

Ontem fui caminhar. Primeiro porque tinha o tempo pra isso, mas também porque bateu culpa por não estar me exercitando. Flacidez é algo que me aterroriza e sei que vou precisar de mais que caminhadas, em bom ritmo, pra enxotar esse fantasma. Seja como for, sempre achei cool ver as pessoas caminhando. Há uma certa aura em quem caminha por caminhar. Gosto da caminhada sobretudo como ritual, que exige até mesmo roupas próprias e acessórios, como um Ipod último modelo, pendendo dos fones de ouvido. De posse da parafernália, o mundo ao redor parece um simples, insosso cenário.

Pois então fui. Faltavam claro os super tênis e a tal roupa que faz do mais sedentário barrigudo um fashionable esportista. Mas eu tinha o Ipod, que me roubou alguns minutos para o ajuste, resultado da minha habitual falta de jeito com os eletrônicos. E, de quebra, levava orgulhosa sobre o nariz meus óculos de sol novos, a la Jackie O. Parti pelas ruas de Dogtown, meu bairro urbano, com seu working class appeal...Se é que a classe trabalhadora tem ou teve algum appeal.

Gosto dos parques. Mas de certa forma me intriga mais andar na rua, vendo as casas, apreciando umas, rejeitando outras. Nos parques vemos personagens de um script similar. Gente andando nas horas vagas pra ficar em forma ou pra ter a sensacão de que um dia vai ficar em forma.Na rua a gente vê o carteiro suando e certamente pensando por que idiotas, como eu, andam por aí de graça, embaixo desse sol insano... Vi um cara descarregando uma caminhonete, uma senhora desperdiçando um tantão de água pra manter o verde do gramado...cenas urbanas, ou quase. O importante mesmo é saber o que eu ouvia naquele Ipod cor de prata: Joni Mitchell. Tenho tentado ouvi-la em casa, nos últimos dias, mas, com o filho de férias, a voz suave da musa e suas canções melódicas nunca parecem ser a melhor trilha sonora. Pelo menos não na opinião dele que, apesar de nem ter completado seis anos, já ousa desafiar nossos gostos musicais....Ou, por outra, imitar os gostos do pai e rejeitar os meus. Acho que é aquela fase de identificacão de gênero (não musical, gênero masculino), que sei eu?

Se tivesse brisa, eu diria que a caminhada, ao som de California..., seria simplesmente perfeita. Não, não havia brisa. Quem já esteve em agosto em Saint Louis sabe do que estou falando. Mesmo assim, eu queria andar e deixar rolar... Let it be (quem sabe eu tenho essa canção aqui, em alguma songs’ list). Por algum motivo, pensar em Beatles, em Joni Mitchell me faz pensar em anos 60. Acho que nunca vou me libertar da sombra desses anos. Tanta coisa interessante acontecendo. Tanta coisa horrível, abominável também acontecendo. Discordo de quem pensa que um período histórico tenha, supostamente, mais acontecimentos que outros. Afinal, vivemos uma boa dose de fantásticos e horrorosos acontecimentos nos tempos que seguem. Nem assim posso ignorar quantas mudanças fundamentais aconteceram quando Mitchell, Dylan, Joan Baez, Caetano, Chico, Gil estavam iniciando suas carreiras.

Tudo isso, mais minha tendência a nunca relaxar, e minha tradicional reflexão de agosto- desde muito tempo, todo mês de agosto, um mês antes do meu aniversário, passo por uma versão pessoal de inferno astral- prenunciavam sabotar minha caminhada. Pois bem, pensava nos anos 60 e em Joni Mitchell e em feminismo. E antes que eu me desse conta já estava trincando os dentes de raiva ao lembrar da declaração metida a engraçadinha da atriz brasileira Maitê Proença que, possivelmente rolando os olhinhos azuis, lançou mão do lugar-comum (mais um)para elogiar os recentes avanços da mulher e, “inocentemente” dizer esperar que os machos selvagens nos salvem da candidata Dilma. OK, a caminhada matinal toma novo ritmo. Essa imbecil global acaba de destruir my cool scene. Não é só o fato de eu odiar lugar-comum, com todas as minhas forças. Não é só o fato de eu achar que a Maitê Proença deveria ficar quietinha e recitar somente o que o script das novelas que ela faz determinar. E, por fim, não é somente porque ela defende o candidato do patrão contra a candidata que eu apóio. Isso seria razão pra eu ignorar as opiniões da bela e ponto. O que de fato me irrita até mais não poder é a apropriação que algumas mulheres (e homens) fazem da luta feminista para distorcê-la, diminuí-la, em última instância ridicularizar algo que muita gente antes delas teve de construir sob as piores condições.Quando são mulheres a fazer isso, incomoda ainda mais a pretensão de algumas ao acharem que, por serem mulheres, estão autorizadas a falar em nome do feminismo. Que feminismo, cara pálida?

Estou certa que os machos selvagens, tão caros à Maitê, podem até sair em defesa dela. Não vou aqui discutir os sonhos eróticos de ninguém. Mas também tenho certeza que eles não vão impedir a vitória da Dilma e o que essa vitória representa. Tem muita mulher por aí que come uma machozinho selvagem por dia no café da manhã.

Há algo sobre o movimento feminista, ou sobre a história das mulheres na vida social, fora do ambiente doméstico, que a Maitê perdeu de vista: por falta de atenção ou por conveniência, pouco importa. Felizmente, nem todo mundo deixou passar este bonde. O bonde, aliás, continua passando. Mulheres que levam a família nas costas, que continuam fazendo dupla jornada, que ganham menos que os companheiros, essas, mesmo sem ter nunca lido uma linha sobre teoria feminista, sabem mais que mil maitês com seus doces olhos azuis.

A apropriação do legado feminista para usos suspeitos não é exclusividade brasileira, claro, e pode ter consequencias mais assustadoras. Falo agora de Sarah Palin, a musa conservadora, que me dá nos nervos mais até que a atriz/”jornalista” do Brasil. Em alguns aspectos, os motivos que inspiram minha raiva são similares. A americana, como a brasileira, é uma reprodutora incessante do lugar-comum. As frases feitas jorram de sua boca em jatos. A previsibilidade, a falta de crítica e de profundidade faz dela um ícone desse tipo de ser humano. Não do sexo feminino ou, como ela agora clama, da maternidade. Uma das suas novas táticas de auto-promoção é, numa tradução grosseira, a da mãe-urso. O que portanto a faz duplamente irritante, além de sua apropriação deslavada (e equivocada) do feminismo, é sua presunção ao definir maternidade. A simples ideia de mãe que ela busca imprimir, com o simplismo de suas “propostas”, com o apelo barato de um shopping tour vespertino, é de enjoar os estômagos mais resistentes. Talvez ainda mais de quem é mulher e mãe.

E melhor voltar minha concentração `a caminhada, porque acabou o CD da Joni Mitchell e agora estou ouvindo Paralamas do Sucesso. Dos anos 60 aos 80, mulheres e mães inteligentes uni-vos contra a estupidez generalizada! Ai que calor!

Sunday, August 8, 2010

Entrevista do Lula

Acompanhar de longe, às vezes, é difícil… Desde que voltei da minha temporada no Brasil, tenho tentado ficar mais ligada no que acontece, embora, claro, a grande mídia continue me irritando terrivelmente. Pela dica da entrevista do Lula, na Isto é, tenho de agradecer a Bruno Ribeiro, que a comenta em seu blog. Vejo que o Bruno é jovem, mas tem muito respeito pelo ofício de informar. Gostoso ver isso. Para uma pessimista como eu, é sempre um alento. Mas voltando à entrevista, clique aqui para vê-la.
Comentários serão muito bem-vindos. E aos pais brasileiros, que a paternidade seja sempre um misto de descoberta, aprendizado e amor.
Axé!

Friday, August 6, 2010

Rosa de Hiroshima

Sessenta e cinco anos atrás, no dia 6 de agosto, a primeira bomba nuclear jamais usada numa guerra foi lançada no Japão, sobre a cidade de Hiroshima, pelos Estados Unidos. Sessenta e seis mil pessoas foram mortas instantaneamente e milhares de outras morreriam depois, em consequencia da exposição ao material nuclear. As sequelas, físicas e psicológicas, foram muitas e duradouras.
Há uma vasta literatura produzida por sobreviventes da bomba e escritores que simplesmente sentiram que deviam incoporar o tema a seus trabalhos. Prometo falar mais sobre isso em posts que virão. Por enquanto, nesses tempos de sanções, de guerras “justificadas”, fica apenas um pedido de silêncio e reflexão em memória dos que morreram e de todos nós que carregamos essa mancha na história da dita civilização moderna.
PAZ!

Thursday, August 5, 2010

1º Encontro Nacional de Blogueiros Progressistas

O1º Encontro Nacional de Blogueiros Progressistas acontecerá nos dias 21 (sábado) e 22 (domingo) de agosto em São Paulo, capital. O evento tem o apoio institucional do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, a Altercom e o MSM (Movimento dos Sem Mídia).
As inscrições vão até dia 13 de agosto e custam R$100,00 (estudantes de comunicação pagam R$ 20,00). Há também cotas para associações, entidades e indivíduos, os chamados Amigos da Blogosfera, que queiram custear parte das despesas dos blogueiros participantes por meio de cotas de 3 mil reais cada. Até o momento, 19 cotas estão confirmadas. Para inscrições e maiores informações, envie e-mail para contato@baraodeitarare.org.br ou ligue 11 3054 1829.

Passe a notícia adiante! Participe e fortaleça a mídia alternativa.
Abraço

Wednesday, August 4, 2010

Esse teu olhar...

Observação valiosa, de Renato Rovai, da Revista Forum, sobre a cobertura dos candidatos à presidência pela TV Globo. Diz Rovai:

“A edição é uma das principais armas do jornalismo. Na mão de gente desonesta, transforma um idiota num gênio (ou jênio?) e uma pessoa preparada num imbecil.
Pela edição que o JN fez hoje da participação de Dilma, a intenção é clara. A Globo vai buscar mostrar uma Dilma insegura, de idéias trôpegas.
Pra isso deve selecionar momentos onde sua fala seja menos direta, mais confusa.
Olho vivo no “horário eleitoral gratuito” da Globo. Porque ele é gratuito, mas tem dono.” Pra ver o post completinho entre no blog do autor
É interessante ressaltar a importânica da edição jornalística e, com ela, o papel que uma cobertura jornalística pode assumir no cenário das eleições. Felizmente, creio não ser mais o caso de se temer aquela edição do debate, em 1989, no qual a Globo, desavergonhadamente, destruiu a participação de Lula e, com isso, contribuiu para entregar o país ao bandido Collor e sua gangue (well, eles estavam na gangue, afinal...)

Ainda no mesmo post, Rovai chama a atenção para a estratégia da Globo de mostrar o melhor de Marina Silva. Já que o candidato deles é ruim de doer, levantam a bola da outra candidata que pode complicar o primeiro turno pra Dilma. Aparentemente, o truquezinho sujo já foi usado com Heloísa Helena no passado.

O que a câmera de TV nos mostra é filtrado pelo olhar de alguém. Um alguém que se presta a interesses bem definidos, um alguém que trabalha sob determinada agenda. Como no cinema, o que vemos não é a realidade, mas uma narrativa, uma leitura da realidade.Será que mesmo depois de todo esse tempo de estética de “reality show” o grande público ainda nao tenha acordado para isso?

Seria legal que nos espaços comunitários, nas escolas de jornalismo, nas escolas, em geral, ou nos grupos de jovens dentro dos partidos se abrisse uma discussão desse tipo. sobre a linguagem televisiva, sobre nossa capacidade de questionar a veracidade da imagem. Treinar o olho crítico, aprender a entender as sutilezas (nem sempre realmente sutis) da mídia pode ser interessante. É saudável desconfiar... Olhar de novo, reavaliar. Nada deve ser engolido, assim, passivamente.

Dessa forma, a gente reverteria o poder manipulador da tv platinada e começaria a minar sua influência desastrosa, nociva, na sociedade brasileira. Há vários blogs esta semana chamando a atenção para a gradual extinção da presença do Lula na Globo, por exemplo. Se todos estivermos atentos, esse joguinho idiotizante não pode colar. Não vai colar...

Paz!