Tendo crescido às voltas com uma família grande, plena de tios e primos, sempre me fascinou a ideia de que amigos, ao contrário de familiares, são escolhas nossas. Cada um deles foi eleito por nós ou nos elegeu para ocupar essa missão, com todo o peso que o título em si inspira.
Quando foi
a última vez que você precisou de um amigo? Você sabe quem são seus
amigos? A palavra amigo e o conceito
amizade parecem tão lugar comum. Mas o fato é que, pelo menos na minha
experiência, a gente tende a pensar nos amigos quando precisa deles. Coisa egoísta,
eu sei e, claro, não inteiramente verdadeira. Porque, para ser justa, eu sempre
penso em meus amigos quando eles precisam de mim, também. Mesmo que eles não
peçam ajuda, cresce em mim um senso de responsabilidade, uma espécie de chamada
do dever.
Acontecimentos
recentes na minha vida familiar me fizeram voltar ao tema. Nenhuma novidade, eu
diria. Uma rápida olhada neste blog já indica que ele me interessa. Acontece que nos últimos anos tenho me
questionado mais e mais sobre os sentidos da amizade e minha capacidade de
fazer e reter amigos. Imagino que seja um questionamenteo normal que ganha
importância com o passar do tempo. Vivo uma fase da vida na qual nosso senso crítico nos
leva algumas vezes a selecionar com mais cuidado as pessoas em quem queremos
investir tempo e com quem desejamos dividir histórias. De novo, mil perdões se isso soa pragmaticamente
frio. Como costumo dizer, tenho hoje poucos mas muito amados amigos. Alguns
deles, como também já disse aqui, tomaram rumos diversos e eu aprendi nos
últimos anos a guardá-los numa constelação especial. São amigos que eu respeito em nome de um
passado compartilhado, mas que ficaram presos neste passado, como uma foto
bonita, uma canção. Outros, vão mudando com a gente, o que pode levar a estranhamentos de parte a parte.
Eles podem te fazer chorar mas na mesma medida vão chorar por você; vão te dar
uma chance antes de te julgar e na maioria das vezes vão estar do teu lado sem
nem perguntar o motivo da briga.
Nessa altura do campeonato, poucos anos antes de completar meio século de existência, eu tenho o benefício
de uma certa sensibilidade que me faz aceitar quando alguém não vê em mim uma
amiga. Se ao princípio eu me frustrava com isso e ficava tentando ser melhor aos olhos
daquele amigo, amiga em potencial, agora me resigno. Parece triste mas na
realidade é uma bênção quando um raro amigo te abre as portas nessa tal, especial, fase da
vida. Você pode respirar com a certeza de que foi escolhida puramente pelo que
você é. Depois da juventude, circunstância desempenha um papel menor e, acredite,
é delicioso desfrutar de uma amizade que nasce simplesmente porque temos coisas
em comum e porque gostamos de rir juntos. Então vem admiração, compreensão das
falhas, e um desejo enorme de que o amigo, amiga seja infinitamente feliz.
A angústia
passa. Pouco a pouco as coisas voltam a ter um ritmo normal, ainda que
diferente. E depois de passada a tempestade, a gente vê no meio da bruma quem
são os amigos que permanecem. Melhor dizendo, quem são os amigos. Afinal,
aqueles que desapareceram ao primeiro trovão provavelmente não eram amigos. Conjecturas...
Dedico
estas linhas a todos os amigos que continuam comigo, conosco, atravesssando os
temporais. Com eles vamos ver os dias de
sol que hão de vir pela frente.