Por um Brasil de leitores!
Moro nos EUA há muitos anos e uma das
coisas mais legais que já vi aqui é o sistema de bibliotecas públicas. É
absolutamente maravilhoso e , lamentavelmente, ao contrário de outras ideias americanas,
esta nunca foi amplamente copiada pelo Brasil. Em 2009, a Fundação Getúlio
Vargas fez um censo de bibliotecas municipais no país. A pesquisa foi
encomendada pelo Ministério da Cultura. Os resultados saíram no ano seguinte e
não foram muito animadores. Apurou-se , por exemplo, que 445 municípios
brasileiros (8% do total) não tinham bibliotecas públicas. As bibliotecas em
funcionamento geralmente não ofereciam outros serviços, ou seja, não promoviam
atividades com os leitores nem mesmo grupos de leitura e poucas ofereciam
acesso à internet. Mais de 90% delas eram inadequadas para deficientes físicos
e/ou visuais. A maioria também fechava aos finais de semana e os horários de
atedimento ao público, em geral, inviabilizavam o acesso dos que trabalham em
tempo integral.
No mesmo ano, 2010, o Ministério da Cultura lançou um edital convidando os
municípios a se candidatarem a kits
de modernização das bibliotecas. Cerca de 200 projetos foram selecionados e
agora é hora de se saber como essas políticas de incentivo têm evoluído e como
cada município tem tirado vantagem delas, eficazmente.
A criação dos Pontos de Leitura é outra iniciativa interessante e necessária. Grupos como sindicatos, centros comunitários e outros espaços públicos concorrem a verbas federais e infra-estrutura básica, incluindo um acervo inicial de livros de diferentes categorias. Depois de ter bibliotecas em cada município, o ideal seria garantir acesso ao maior número de leitores e transformar esses espaços em parte integrante das comunidades. E que sejam lugares bonitos, acolhedores, dinâmicos.
A criação dos Pontos de Leitura é outra iniciativa interessante e necessária. Grupos como sindicatos, centros comunitários e outros espaços públicos concorrem a verbas federais e infra-estrutura básica, incluindo um acervo inicial de livros de diferentes categorias. Depois de ter bibliotecas em cada município, o ideal seria garantir acesso ao maior número de leitores e transformar esses espaços em parte integrante das comunidades. E que sejam lugares bonitos, acolhedores, dinâmicos.
Eu quero ter esperança. Afinal, a
situação na pátria amada, idolatrada ainda é ruim mas não é novidade.
Muitíssimos anos atrás, quando eu era adolescente, tirava livros religiosamente de
uma circulante municipal. Eu tinha de renovar ou devolver os livros a cada duas
semanas e tentava ler o mais rápido que podia para constantemente ter livros
diferentes em mãos. Um dia, porém, fui
informada que houve reformulação dos distritos e com isso eu ficava proibida de
continuar retirando livros daquela biblioteca. Há de se notar que a dita
biblioteca não ficava no meu bairro. Eu tinha de fazer uma viagem de ônibus de
cerca de 25 minutos. Com a tal reestruturação fui encaminhada para uma
biblioteca que, apesar de pertencer à minha área, era impraticável. Era
totalmente fora de mão: eu teria de tomar dois ônbus e, mais grave,
aparentemente acreditava-se que minha jurisdição não tinha muitos leitores
porque a biblioteca que nos cabia mal tinha livros e o parco acervo era composto de
títulos infantis: uma ofensa para uma adolescente que se julgava tão madura,
pelo menos como leitora.Mais recentemente ,lembro de lido que o então
prefeito, Kassab, planejava fechar esta mesma biblioteca por falta de leitores
(comentei o episódio neste blog).
Voltando ao meu drama adoelscente, não
adiantou nada literalmente chorar diante de uma bibliotecária cuja apatia só
era superada pelo incrível pendor à burocracia. Eu tinha sido oficialmente
excluída. Foi então que pela primeira vez me servi do jeitinho brasileiro,
neste caso, felizmente, sem graves consequências para ninguém e com benefícios (temporários)
a minha sede de livros. À época, eu tinha um namorado que lia tanto quanto eu e
que morava perto da bilbioteca. Ele tinha um irmão que, por sorte (minha não
dele), não ligava para livros. Assim não foi difícil convencê-lo a obter uma
carteirinha da bilbioteca e gentilmente me permitir usá-la em seu lugar. O
acordo durou pelo tempo do namoro, que não foi longo, mas adiou a necessidade de
comprar livros por mais um tempo.
Poucos anos depois, já na faculdade,
outro evento ligado a bibliotecas me fez pensar na pouca importância que damos
a elas no Brasil. Eu estava num desses cursos de ciências sociais com nome
complicado. O professor era alguém da USP e embora tivesse boa reputação
intelectual era uma dessas figuras antipáticas, caricatura do acadêmico esnobe.
Numa das aulas dele, no meu primeiro ano de Jornalismo, quando ele falava sobre
a bibliografia do curso, levantei a mão
e perguntei quais eram as opções para quem não pudesse comprar os livros. Inocentemente
eu esperava algo como a dica de uma loja de livros usados ou, (por que não?)
ser informada sobre os recursos da nossa biblioteca universitária. Em vez
disso, Dr. X foi categórico: “Quem não
tem dinheiro para a gasolina não deve comprar carro”. Engoli a metáfora
indigesta. Mas sabia que era preciso mais do que uma tirada infeliz pra me
fazer desistir. E continuei tocando o carro, mesmo que, às vezes, aos
empurrões. Valeu a pena, Dr. X.
Eu me lembrei deste episódio, em 1999,
no primeiro ano da pós-graduação em Illinois. Eu me preparava para escrever os
trabalhos finais cercada por dezenas de livros emprestados da biblioteca da
universidade (tenho uma foto com eles e espero um dia encontrá-la). Eu me
sentia como uma criança que realiza o sonho de ter uma casa cheia de doces. A sensação só era mais
intensa quando eu me via nos corredores da própria biblioteca, escolhendo
livros das numerosas prateleiras e me deliciando em simplesmente folhear tantos
exemplares quanto possível.
não por acaso tem um sistema maravilhoso de bibliotecas públicas.