Sunday, October 24, 2010

Amizade e política

Sonhos nem sempre compartilhados...

Eu quero, faz dias, escrever sobre amizade. Quero falar sobre algumas descobertas recentes e esquadrinhar uns pensamentos mais antigos sobre o tema. Ainda não vai ser hoje porque preciso de mais tempo e cuidado pra essa tarefa, mas há algo que anda engasgado, ferindo feito sapato apertado... Desde que a campanha se polarizou entre apenas dois candidatos e que os apoiadores demotucanos resolveram baixar o nível a valer, tenho, claro, recebido mais e-mails relacionados à política no Brasil. Como os que me conhecem sabem das minhas posições políticas, é muito raro que eu receba baixarias. Acho que no começo do ano ainda constava em algumas listas, mas como de imediato fiz questao de responder (reply to all style) contestando as falsas acusações que faziam ao governo Lula e/ou à candidatura de Dilma, minha caixinha de entrada felizmente não teve de testemunhar muita dessa bobagem.

Eu, pessoalmente, quase não produzo material pra enviar aos amigos. Mas algumas semanas atrás vi um artigo, que foi divulgado pelo Viomundo. O material dava conta de licitações irregulares na Educação do estado de São Paulo. O artigo chamava a atenção para o fato de a imprensa não dar bola para os escândalos estaduais, ao contrário do que acontece com relação a tudo o que se refere ao que seja, ainda que falsamente, relacioando ao governo federal.  E  fornecia um material que, se alguém se prestasse a ler, se mostrava muito sério, baseado em fatos não em boatos.  Enfim, a história me pareceu relevante a ponto de eu selecionar uns poucos amigos e familiares (não coincidentemente os que se dizem defensores da moral política e contrários ao- na cabeça deles - escandaloso governo Lula). Incluí alguns poucos eleitores firmes de Dilma pra que eles pudessem divulgar o artigo. Fiz questão de mandar o material com um bilhete justificando a decisão de encaminhá-lo e assegurando que não enviaria outros e-mails.

Apesar dos cuidados, recebi um e-mail irado de um amigo que, em outras circunstâncias, raramente me escreve. Mais que isso, alguém que levava normalmente um tempão pra me responder um e-mail, fosse qual fosse o assunto. A mensagem dele começou pesada, já de cara me chamando de desinformada. Ora, os que me acompanham, de longe e de perto, sabem bem dos meus defeitos. Muitos dos quais apesar de não me causarem orgulho tampouco podem ser simplesmente escondidos. Desinformada, eu diria, não me parece uma atribuição justa. O tom foi chegando ao nível de sutilmente , ou talvez nem tanto, me chamar de burra.

Meu instinto pacífico e o grande carinho que ainda nutro pelo tal amigo me obrigavam a tirar o time de campo. Não sem antes, obviamente, garantir que, sim, sou suficientemente informada e ainda assim apóio a candidatura Dilma e aprovo o governo Lula. E, como já revelado em post anterior, reforçar minha tese de que nem todos, ainda que unidos pelos laços da amizade, sonham com o mesmo Brasil. Esse possivlemtne seria o caso, agora, para nós. Eu, que vinte anos atrás julgava compartilhar o mesmo sonho de Brasil com ele, via claramente que nossos caminhos se separavam. Os e-mails continuaram a vir. Declaração de apoio do Bicudo ao Serra (pancada!), charge de horrível mau gosto do Angeli e eu já estou me preparando pra receber coisa do Jabor, do Magnoli ou do Reinaldo Azevedo...

Contando aqui parece mais leve. Mas tenho de admitir que a coisa me pegou feio. Triste ver um antigo companheiro de luta repetindo o mesmo discurso chinfrim, lugar comum da grande mídia e dos que a reproduzem sem reflexão alguma. Chorei de desilusão. No processo, também fui questionada por familiar próxima e muito amada: Por que você se importa se nem mora no Brasil? Essa acho que doeu até mais do que a pecha de ignorante...Faltou responder à altura. Mas a melhor resposta roubo do meu querido amigo Vitor. Disse ele:  você não está na terrinha, mas a terrinha está em você...

Na mosca, Vitor. O Brasil vai estar pra sempre em mim, sim. Você sabe disso meu amigo-irmão que, apesar de sãopaulino, tem a lealdade de um companheiro alvinegro.  

Pois é... Talvez eu tenha perdido um amigo que, seja como for, continua guardado “do lado esquerdo do peito”. Vou preservar dele a imagem de um jovem que sonhava com um Brasil menos desigual, um tipo de “paraíso terrestre “no qual todo ser humano pudesse comer pelo menos três vezes por dia, trabalhar, amar e, (por que não?) sonhar. 

Fica um video que ilustra aquele tempo e as amizades de  então. Canção da América

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