Quando saí pra tirar a foto, já era tarde demais...O sol já tinha se acomodado inteiramente atrás da montanha. Num piscar de olhos... E logo a noite foi caindo. |
Enquanto escrevo esse ‘post’, eu posso ver o sol
literalmente se escondendo atrás da montanha. Uma imagem recorrente, do jeito
que eu costumava desenhá-la quando era criança. Minhas casinhas eram sempre as
mesmas e sempre havia uma montanha. Por
trás dela o sol ia descendo. O sol que vejo agora é lindamente real e vai
escorregando atrás de uma montanha igualmente linda e real. O sol que vejo
agora não tem nada daquele laranja dos meus desenhos infantis. Vai ver que é
porque meus olhos reproduziam com lápis de cor o sol tropical do Brasil e este
aqui, sol invernal, do hemisfério norte, tem seu próprio tom e brilho.
Eu sempre fui fascinada por pôr-do-sol. Lembro, muitos anos
atrás, de uma passagem de ano em que fui para Cabo Frio. Fui com uma amiga e de
lá visitamos as cidades praianas mais próximas. Presenciamos um crepúsculo fantástico
em Saquarema . Eu, com minha Kodak vagabunda, fui fotogrando o sol até ele
desaparecer. Na volta, mostrando orgulhosa minhas fotos aos amigos, eles
perguntavam rindo: “Mas parecem todas a mesma coisa”. Eu olhava indignada: como
é que eles não percebiam que em cada uma delas havia menos sol aparecendo e que
a cada minuto toda a luz em volta se modificava também. Talvez o mistério dessa
falta de percepção tivesse mais a ver com a má qualidade da minha câmera do que
com a sensibilidade dos observadores. Ainda assim, eu logo percebi que nem todo
mundo tem o mesmo interesse pelo pôr-do-sol. E que eu nunca poderia, mesmo
quando eu tive acesso a câmeras melhores, reproduzir em fotografia a emoção que
ver um pôr do sol me causava.
Uma vez alguém me disse que pôr-do-sol é deprimente. Quando
o sol se põe, o dia morre. O argumento era que melhor mesmo é ver o nascer do
sol: ver o dia começando cheio de promessa e a luz gradativamente preenchendo o
espaço. Para ser sincera, poucas vezes na vida vi o dia raiando. Não sou
voluntariamente uma pessoa da manhã e já faz tempo que não passo a noite
acordada pra surpreender o despertar de um novo dia. Imagino que o raiar do sol
seja algo também fascinante, mas discordo que o pôr do sol seja triste.
Coincidentemente, minha estação do ano favorita nos Estados Unidos é o outono.
Este semestre um aluno fez observação parecida sobre minha preferência. Ele me
lembrou que no outono tudo morre; as folhas caem, o verde desaparece. Tudo que era
vívido e brilhante vai se desvanecendo. Foi então que me dei conta que meu
gosto pelo pôr do sol e pelo outono tinham algo em comum. Não, não me acho
mórbida. Muito ao contrário. Embora eu sempre tenha visto a tristeza como algo
necessário e pessoal. Defendo o direito irrestrito de todo ser humano a sua
própria tristeza. Não suporto a obrigação de ser alegre todo o tempo, o tempo
todo.
Quando o sol se põe eu sei que ele há de surgir amanhã
novamente. Mas se ele nunca se pusesse a gente não poderia apreciar sua
partida. Não há novo dia sem que se passe pela noite. Eu tenho a mesma sensação
com relação ao outono. As folhas mudando de cor e as árvores pouco a pouco se
despindo dão um tom melancólico à paisagem. Ao mesmo tempo, anunciam o fim de
um ciclo para o começo de outro.
Quero crer que o final do ano possa provocar sentimento
parecido. Que esse aparente final, tantas vezes repetido e celebrado, seja
prenúncio de coisas novas e melhores. Quero apreciar também esses últimos “raios
de sol” e estar atenta à beleza da noite. Quero receber o raiar do novo ano de braços e
olhos bem abertos, porque logo, logo ele, também, há de escorregar por trás da montanha.
Feliz Ano Novo!
2 comments:
Adorei, Selma! Não conhecia este lado seu. Continue escrevendo e com mais frequência. Parabéns! E um ótimo 2014 pra você e sua família.
Luciano Tosta
Obrigada pela força, Luciano! Escrever sem nenhuma obrigação acadêmica é algo de que sempre gostei, mas o tempo, você sabe, nos rouba esse prazer. Feliz 2014 pra você e sua família também!
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